Esse movimento “Não Foi Acidente”, que prega a coleta de um milhão
de assinaturas para pressionar o Congresso a endurecer as leis de
trânsito é a típica iniciativa populista, demagógica e burra. Só vai
servir para gastar papel e adiar o surgimento das verdadeiras soluções.
O bom mocismo costuma causar tanto estrago quanto a vilania. Um dos
motivos é que fazer o bem é muito mais complexo do que praticar uma
maldade. Tente ajudar um vizinho desempregado (ou alcoólatra) e você vai
entender rapidinho.De uns anos pra cá, os que mandam no Brasil desenvolveram um hábito extremamente nocivo de ocupar a sociedade com novas leis que se resumem a reforçar as que já existem. É pura dissimulação de um Estado incapaz de cumprir com suas mínimas obrigações.
Se há algo que não falta em nossa
terra país são leis. Temos toneladas delas, muitas inúteis e ridículas.
Mas as que de fato interessam não são cumpridas, por falha de
fiscalização ou desinteresse puro e simples dos poderosos.
Se somos o quinto país com maior número de mortes decorrentes de
acidentes envolvendo meios de transporte, não é por falta de uma
legislação dura. Para começo de conversa, faltam estradas transitáveis,
minimamente sinalizadas. Falta equipar nossas polícias rodoviárias.
Falta investir em educação a fortuna incalculável proveniente de multas e
IPVAs. Falta obrigar as montadoras a fabricarem carros modernos e
seguros, compatíveis com os preços extorsivos que tornam nossos veículos
os mais caros do sistema solar. Em vez disso, os inocentes úteis ficam atolando redes sociais com essa conversinha de tolerância zero para bebidas. É muito cretino imaginar que um cidadão que tome uma taça de vinho no almoço em família se torne um assassino em potencial que merece ser preso numa masmorra para o resto da vida.
Embriaguez ao volante é proibida desde sempre. Essa nunca foi a questão, se pode um miligrama de chope ou quinze doses de cachaça vagabunda. Vamos deixar de ser ingênuos. Esse amontoado de leis criadas de forma apressada, sem contrapartida das autoridades competentes, apenas atola delegados e juízes embaixo de uma montanha de burocracia. No final, sobrevivem apenas os que podem pagar bons advogados (e bons uísques).
E de uma vez por todas: a maioria das vítimas estão na periferia,
nas estradas esburacadas e sem acostamento criminosamente abandonadas
pelo poder público. Quem dera nosso problema fossem as Ferraris
envenenadas e motoristas que se embriagam em boates de luxo. Nunca
faltou lei para punir essa gente. O que sempre faltou foi Justiça, algo
que não se encontra nas ruas. Eu, pelo menos, nunca vi.
..Kay
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