19 de jun. de 2013

O GIGANTE ESTÁ ACORDANDO!!



























Eu cheguei com medo. A quantidade de informação que eu consumi sobre a repressão nos últimos dias me tirou sim um pouco da energia que queria ter levado para a cobertura dos ataques de ontem. Fiquei com medo da chegada de um bicho papão, uma entidade que viria de um buraco negro pra consumir tudo aquilo. Ninguém sabia de que lado viria, como viria, por todo lado rastros de disputa, um senso de alerta pulsando, mas nunca a criatura em si. Parecia um cenário de ficção, a cada esquina uma nova fogueira, era o fogo iluminando a rua e o rosto das pessoas, encapuzadas, com máscaras de gás, gritando palavras de ordem.

Mas quando veio o caos, o headliner do evento, foi tudo muito diferente do que esperava. Toda vez que vi a polícia ontem, ela estava fugindo, sob ataque. Toda a violência que presenciei, veio de moleques, gente nova, no máximo dos seus 20 e poucos, encapuzados, eufóricos, genuinamente satisfeitos com a destruição que causavam. Em dado momento um grupo gritava 'Nós somos o terror do Rio de Janeiro!', enquanto depredavam o Paço Imperial. Manifestantes que se posicionavam contra isso eram desencorajados rapidamente pela agressividade com que essa galera retrucava.

Já falei isso antes, ver isso dá aquela mesma satisfação juvenil que se sente quando alguém bate em quem te "bullyna" na escola. É uma satisfação gostosa de revanche, não vou mentir, ver o vidro de um banco se despedaçando, o barulho dos cacos, aquilo me arrepia. Ver a polícia fugindo aos tropeços, caçada por uma horda de jovens, tão fragilizada quanto quem é constantemente reprimido por ela, dá um senso de propósito sim. Algumas das bandas que eu mais escutei na minha vida são punk, propagando chamadas de reação, de revolta. Participar daquilo deveria ser uma das coisas mais prazerosas que já vivi, ia ser um puta presente de aniversário.

Mas não, era absolutamente óbvio pra mim que aquilo estava errado. A falta de propósito claro, a agressividade impulsionada pela vingança, ou simplesmente pela liberdade para poder agir sem repressão, nada daquilo parecia válido. 'Ocupamos a Alerj!', aquilo soou tão ingênuo que me senti violado. Aquela uma hora que passei ali quase me tirou a graça de uma das coisas mais bonitas que já vi na vida.

Alguns fatos:
. Tinham dezenas de cápsulas de fuzil pelo chão. A polícia sim usou arma de fogo para dispersar.
. A agressividade dos manifestantes, a partir de certo ponto, era sim criminosa. Em uma situação diferente a polícia possivelmente teria sim abrido fogo para se proteger/proteger o patrimônio público (e teriam possível respaldo). Se tivessem o feito, a disputa poderia ter ido ao inferno. Ainda bem que não aconteceu.
. A polícia estava muito mais na defensiva e descentralizada. Não havia efetivo e acho que nem preparo para cobrir e conter uma manifestação desse tamanho.
. Todas essas ações aconteceram a cerca de quarto quarteirões da manifestação principal, onde toda ação de 'vandalismo' era durante reprimida pelos manifestantes. Até com exagero e violência em alguns casos.
. Essa massa paralela que foi em direção a Alerj carregava muito mais bandeiras partidárias e era muito mais jovem também. Não tenho porque afirmar (pelo que vi) que o ataque foi comandado, a maioria ali parecia o mesmo tipo de jovem que participa de brigas de torcida.
. Existia sim uma briga ideológica crítica rolando dentro do protesto, e isso foi claro lá, com várias quase brigas prestes a estourar.
. A massa dos manifestantes está lá em defesa de uma reforma geral na maneira como a política é feita no país, e não está convencida totalmente que o cancelamento do aumento é necessário. Esse diferença central de ideais, e a falta de representação, são, a meu ver, as principais ameaças ao sucesso dessa ação como um todo.

Enfim, o diálogo está aberto, e isso é maravilhoso. Nunca na minha vida vi política sendo discutida como está sendo pela minha geração. Mas uma nova fase desse movimento social precisa vir urgente, senão esse gigante pode se distrair e voltar a dormir.

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Eu e meus colegas do I Hate Flash fizemos o máximo para mostrar um pouco de tudo que aconteceu através dessa galeria de fotos, tiramos a mídia da zona de conforto e espero sinceramente que não nos julguem ilegítimos por não estarmos convencidos e termos participado dessa luta desde o começo, e nos enquadrem nessas teorias de conspirações paranoicas. 



O GIGANTE ESTÁ ACORDANDO!!..

..Kay


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Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.
Chico Xavier